Segredo do Vale do Silício: Integração

Se você é governante que tem o sonho de construir uma franquia do Vale™ na sua cidade ou um empreendedor que sonha se beneficiar do que é estar inserido num local propício a construção de um produto matador ou apenas um empreendedor que — como eu — tentou construir um mercado novo, tenho um Insight para discutirmos.

Porque o Vale é o Vale?

Acredito que todos já se perguntaram isso e muitos tentaram compreender lendo livros especializados do assunto, participando de caravanas até o local para imersão na cultura e alguns até já participaram de alguma tentativa de recriação em sua cidade.

Sendo bem direto, você não conseguiu recriar porque falta um fator fundamental pra demonstrar até porque não existem outros Vales nos USA.

Sempre faltou integração entre quem participa do Cosplay de Vale com a população que vive no lugar.

Mas porque é importante todos que pretendem construir um grande negócio entenderem esse fenômeno?

Minha experiência fracassada

Ano passado eu tive uma idéia para uma Startup, sou historiador nas horas vagas com especialização na história das artes marciais — sobretudo esportes de combate — no Brasil. Durante minhas pesquisas eu descobri o passado grandioso de um esporte que sumiu da face da terra e hoje vocês conhecem o herdeiro “galhofeiro”, o WWE, que é um negócio gigante e dá muito dinheiro. Descobri também que já foi o esporte número um por aqui, inclusive lutadores ganhavam mais que jogadores de Soccer.

Então formatei meu produto, resgatar o Catch Wrestling no Brasil.

Fiz o roteiro by-the-book, preparei plano de negócios, coloquei um MVP no ar (primeira competição), tive cobertura da imprensa especializada local e nacional pra validar o modelo e fiz Pitch com diversos possíveis investidores, principalmente do segmento.

Exemplo de slide no Pitch que participei

Idéia matadora e produto validado

O investimento era pequeno, o custo por competição praticamente irrisório comparado com eventos de tecnologia que realizo aqui na região e mesmo assim o produto não vendeu.

O valor não era baixo, porque não insistiu?

Se eu não consegui convencer ninguém a comprar a idéia, o risco de colocar dinheiro do meu bolso nessa empreitada era muito alto e confundir “gostar de café” com “querer ter uma cafeteria” era evidente.

Meu sentido de aranha apitou alto pela experiência em outros negócios que não deram certo, mas eu precisava entender porque uma idéia tão bem planejada e executada não funcionou.

Não é que o produto não deu certo, pelo contrário, foi a implementação mais fácil que já fiz, isso me consumia ainda mais.

Não tenho é cliente pra comprar, como sigo o mantra “As pessoas não bebem porque existem destilarias, existem destilarias porque as pessoas bebem” tentei entender porque não tenho clientes justamente na nata da luta, na terra dos campeões.

Faltou a cultura

O esporte de combate de maior sucesso da atualidade é o Brazilian Jiu-jitsu, praticamente as competições são as mais atraentes para um patrocinador exibir sua marca, tem mais público.

Imaginei tentar o público do Jiujitsu [focar nele] para as minhas competições, apesar dos números do NO GI [competições sem kimono realizadas pelas federações] gritarem pra mim que não dava certo. Afinal uma competição em média analisada tinha cerca de 600 inscrições com Kimono e apenas umas 40 sem. Mas poderia construir meu ecossistema, só questão de convencer o meu cliente a tirar o paletó do Kimono.

Não converteu. De imediato não entendi o porquê.

Então, ao conversar com meus amigos que moram em San Francisco e observar como eles se tornaram americanos, adotaram o linguajar e o Way of Life da região eu tive o Insight: Eu não integrei esses clientes [participantes] na cultura que quero vender. Porque eu tive esse Insight?

Abu Dhabi é rica, investe no Jiu-jitsu há mais de 20 anos, os Sheiks tem verdadeiro amor pelo esporte/arte. Mas nunca saiu um campeão mundial. Olha que eles contrataram metade do Brasil pra dar aulas nas escolas de lá, dinheiro não resolve todos os problemas.

Em comparação, os USA começaram mais ou menos na mesma época — só um pouquinho na frente — e já tem um plantel de campeões e alguns dizem até que ultrapassarão os brasileiros daqui no máximo uma década.

O Segredo é que querem morar lá

Meus amigos que foram pro Vale ou pra empresas inseridas na região e com o mesmo mindset fazem uma integração de seus funcionários com os nativos, em pouco tempo o sujeito adota o linguajar, os valores, quer morar pra sempre, tirar visto permanente.

Algo parecido aconteceu por volta de 2000 no mundo das lutas, o governo americano fornecia visa fácil pra quem era faixa-preta de Brazilian Jiu-jitsu, muitos foram embora pra sempre pra viver o Sonho Americano.

Meus amigos que foram dar aulas em Abu Dhabi reclamam justamente do contrário, não são tratados como cidadãos, eles sabem que são temporários, é uma terra pra ir ganhar dinheiro, juntar uma grana e voltar pra sua família. Não há relação do nativo com o seu professor.

Conversando com amigos da luta na época eu via isso na minha cara e não conseguia entender, todos diziam: “ah, não gosto de treinar sem kimono”. Eu mesmo repetia isso até uns poucos anos atrás. Porque tirei o Kimono?

Como eu fui inserido no mundo da luta sem Kimono, peguei o linguajar, adotei a cultura, na verdade me apaixonei e praticamente não treino mais com o GI [Kimono].

Cuidado com o seu negócio

Sempre queremos produtos disruptivos, inovadores, criativos, que mudarão o mundo e todo o conjunto de palavras bonitas em palestras motivacionais, mas esquecemos de introduzir nossos clientes na cultura que vendemos.

Eu não abandonei esse produto, só entendi que preciso trabalhar a cultura dele antes, aí conversa pra outro post.

Convertendo pra o mundo da TI, quantas tentativas de pólos tecnológicos vimos morrer?

Vou dar um exemplo aqui de Fortaleza, tentaram montar um longe de tudo, sem oferta de moradia, lazer e diversão para inserir as pessoas na cultura do local.

Enfim, fica a reflexão para quem enxergar um problemão desses na frente.

Agora olha se não foi um formato charmoso, tem ou não futuro? (discurso de amante de café vendendo a cafeteria).