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Pair Programming vs. Code Review

Uma das grandes brigas do momento entre FDD e XP seria sobre qual a melhor maneira de trabalhar em conjunto, os XPers sempre fizeram Pair Programming [PP daqui pra frente] e alegam que o processo de Code Review [CR daqui pra frente] já é algo intrínsico ao processo, já coberto pelas práticas como TDD e pelo próprio PP.

Existe uma diferença básica entre as duas formas, enquanto o PP trabalha com código em edição, a CR trabalha com código já pronto. Um é durante, o outro depois.

Como eu sou XPer, você deve pensar que vou escolher PP em detrimento a CR. Você está certo e errado.

PP é muito importante em um processo de desenvolvimento mas não é perfeito – como tudo nessa vida, existem sim GAPs encontrados em códigos, até porque não existiria Refactoring se não houvesse, isso é natural e esperado.

Uma prática bacana em um dos meus clientes [adoro escrever assim, parece que tenho vários clientes] foi a adoção de revisão de código entre a “troca de pares” [Moving People Around, uma prática do XP]. Isso já era natural mas na forma de uma espécie de Standup Meeting [prática do XP] com Brainstorm e dificilmente descia até o código, fizemos algo melhor:

Durante a troca dos pares, fizemos com que o navegador fosse trocado pelo condutor do mesmo par onde ele iria e revisariam o código do período anterior como prática institucionalizada. Os caras trocados revisariam o código anterior e discutiam entre os 4.

Dessa forma a oxigenação com uma nova mente [a terceira nesse caso] no mesmo código gerado consegue um ganho excepcional na cobertura dos testes, já pegamos várias coisas que passariam [principalmente em testes de integração] e evitamos voltar tarefa já concluída para refactoring.

Enfim, são eXperiências e nada de eXcepcional. Eu não tenho compromisso em agradar um ou outro, apenas a meu cliente e a única coisa que ele quer é software funcionando e saudável, para isso precisamos sempre evoluir as práticas adotadas.

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Retrabalho e prejuízo

Em todos os projetos que trabalhei até hoje no mercado local [Ceará] existem profissionais mais ou menos qualificados a partir de uma base mínima de qualidade que um profissional tem que possuir dentro do modelo “Enterprisey” – que estamos acostumados e que responde pela quase totalidade dos projetos de software.

Essa base mínima eu proponho que seja – dentro do modelo exposto –  raciocínio lógico. O resto ele pode aprender.

Raciocínio lógico está ligado diretamente a noção de avaliar a situação, encontrar um padrão, investigar soluções existentes e implementar a solução, além claro de bom senso.

Não adianta pregarmos que os profissionais deveriam ser melhor escolhidos assim ou assado porque a realidade é que as empresas não tem como medir satisfatoriamente quem é ou não competente e mais cedo ou mais tarde você se deparará com indivíduos em sua equipe vindos por diversas nuances administrativas, seja aquele superqualificado cheio de títulos ou o primo do diretor da empresa.

Aonde quero chegar com essa história?

Precisamos avaliar os riscos necessários com bastante antecedência para que toda a equipe e consequentemente o projeto não sejam lesados e paguem o preço da incompetência às vezes de um único elemento. Parece óbvio? Acredite, não é!

Temos um projeto em um cliente – uma Alfândega – que precisamos refatorar todo o código criado por um determinado profissional com apenas dois ou três meses pronto. O projeto ainda está no início e já temos que refazer código.

Convenhamos, tudo bem que o código de meia hora atrás já é legado, mas código tão recente não deveria já ser refatorado sem mudança na lógica de negócio ou arquitetural. Algo muito errado aconteceu.

Mudanças não funcionais acontecem, surge um novo paradigma ou framework que reduz o tempo de desenvolvimento e convenientemente é adequado sua mudança, isso é comum durante a manutenção de um software já em produção com um meio século de uso – que em informática dura cerca de 4 ou 5 anos.

O nosso em questão não há motivos. Projeto novo, sem restrição ou adequação à “Arquitetura de Referência”, Frameworks de última milha na plataforma Java como JSF, Spring e Hibernate. Testes unitários – mas não TDD.

Como dito, separei um exemplo em código para demonstrar aonde quero chegar. Tem uma lógica bastante simples, existe um processo de apreensão de mercadorias na alfândega e liberação dessa mercadoria.

Há 3 tabelas que representam isso no modelo E/R: TB_DEVOLUCAO, TB_ITEM_APREENSAO, TB_ITEM_DEVOLUCAO. Segundo a lógica relacional, a TB_ITEM_DEVOLUCAO é uma tabela de junção entre a devolução e os itens apreendidos para indicar que item será devolvido.

Seguindo minha definição, um profissional com raciocínio lógico encontraria fácil a solução do mapeamento entre essas entidades apenas lendo a documentação, ele saberia que o Hibernate tem um mapeamento de OneToMany com Join Table Uni ou Bidirecional.

Mas não, ele criou essa bizarrice:

@Entity
@Table(name="TB_DEVOLUCAO")
public class Devolucao {

	@OneToMany(fetch=FetchType.LAZY, cascade=CascadeType.ALL)
	@JoinColumn(name="SEQ_ITEM_DEVOLUCAO")
	@Cascade(org.hibernate.annotations.CascadeType.DELETE_ORPHAN)
	private List itensDevolucao = 
		new ArrayList();
	
}

@Entity
@Table(name="TB_ITEM_DEVOLUCAO")
public class ItemDevolucao { //Para que essa entidade?

	@Id
	@GeneratedValue(strategy = GenerationType.IDENTITY)
	@Column(name="SEQ_ITEM_DEVOLUCAO", columnDefinition="NUMERIC")
	private Integer codigo;

	@OneToOne
	@JoinColumn(name="SEQ_ITEM_APREENSAO")
	private ItemApreensao itemApreensao;
	
}

Esse profissional em questão é graduado em computação, tem mestrado em uma federal, certificação como arquiteto Java e diversas outras certificações e pasme, anos de experiência em projetos. Mas não tem o básico, raciocínio lógico. Não investiga e não sabe desenvolver software de qualidade.

O código em questão pode parecer bobagem até mas isso se repete em todo o código criado por esse profissional.

Um profissional responsável em refatorar o código com apenas curso técnico e uma mísera certificação de programador java refatorou assim [como deve ser]:

@Entity
@Table(name="TB_DEVOLUCAO")
public class Devolucao {
	
	@OneToMany(fetch=FetchType.LAZY, cascade=CascadeType.ALL)
	@JoinTable(name="TB_ITEM_DEVOLUCAO",
		joinColumns = @JoinColumn(name="SEQ_ITEM_DEVOLUCAO"),
		inverseJoinColumns = 
				@JoinColumn(name="SEQ_ITEM_APREENSAO")
	)
	@Cascade(org.hibernate.annotations.CascadeType.DELETE_ORPHAN)
	private List itensDevolvidos = 
				new ArrayList();
	
}

Ad Hominem da minha parte? Tomar uma exceção pela regra? nada disso, eles são legião! Isso é meu cotidiano.

O prejuízo que esse profissional acarreta a todos os envolvidos é enorme e até difícil de ser mensurado porque envolve custos e humor da equipe que impacta em outros custos imperceptíveis na conta final que é a “fodisse” dos caras que tiveram que refatorar, ou seja, fizeram o seu e o trabalho alheio.

Ah, mas XP não prega o código coletivo? ir lá e consertar? Mas quebra o principal valor que é “Respeito”. Além do mais o projeto em questão seque o velho Cascata – mas culpa do cliente que exigiu ser assim, exigiu não, obriga.

Pela minha experiência de nada adianta você jogar um Clean Code nas mãos dele e pedir para estudar, ele vai continuar escrevendo nmDesc em uma propriedade ou IRepository em uma Interface. Ele foi treinado assim e sem raciocínio lógico no máximo que voce vão conseguir é retreiná-lo para conseguir comer a banana por outro túnel.

Um projeto sem um líder técnico responsável com aptidão e experiência necessária aliado a método baseado em BDUF sem um processo restritivo [como TDD] com modelagem ultrapassada com papéis de analista de sistemas “UMLizados” deixa esse tipo de profissional cometer esses pecados e prejudicar a todos os envolvidos retrabalho desnecessário.

É fácil resolver isso? É! O problema maior é que não podemos simplesmente aceitar que “o cliente quer assim”, temos um dever ético com nossa profissão de não permitir que o paciente escolha como ele quer ser operado e ceder médicos que não tenham capacidade de operá-lo.

Existem balas de prata!

Existe um tipo de falácia bem comum que está crescendo ultimamente se aproveitando da célebre frase: Não existe bala de prata!

Quando invocamos a necessidade de não considerar todos os problemas como um prego e a única arma um martelo, não estamos fornecendo a chave da irrestrita flexibilidade irresponsável.

Quando assumimos que em tudo depende, não estamos dizendo que não há uma fronteira. O avanço significativo do cálculo só foi possível com o advento do limite matemático.

Fazer ciência é investigar e fazer a pergunta certa ao contrário da resposta certa. Para isso identificamos padrões e formulamos teorias.

Antes de abandonar uma teoria devemos substituí-la por outra mais apropriada. Isso soa conservador mas é preciso para se fazer ciência, propor o abandono de uma determinada teoria sem a substituição por outra mais adequada é leviano.

Para entender como algo funciona não podemos simplesmente achar que qualquer solução é válida e sim descobrir qual a solução adequada.

Entender que existem soluções mais apropriadas – e que sim, existe um jeito certo ou um modo melhor de se fazer algo – não quer dizer que outras abordagens simplesmente estão erradas,  podem ser apenas incompletas e/ou inviáveis.

Em muitas discussões que tenho travado ultimamente sempre quando tento argumentar que uma solução específica é melhor do que determinada outra, ouço:

“Não existem balas de prata”. Bingo!

Essa pessoa não entende ou não quer aceitar por motivo qualquer que a solução dela está errada ou não satisfaz.

Aqui a proposta é pontual, para determinado conjunto de fatores existe uma solução mais adequada, isso é fato.

Existem Balas de prata!

Mas como somos fans de Supernatural, sabemos que o que mata é acertar no coração. O trabalho deve ser direcionado a combater a complexidade no coração do problema e não simplesmente num jogo de escolher a ferramenta certa.

Na área de desenvolvimento de software a maioria dos desenvolvedores se apegam a uma metodologia/ferramenta/arquitetura e tentam encaixá-la para a construção de qualquer sistema. Não entendem que aquela solução não vai resolver todos os problemas.

Até aqui tudo bem, o problema é aproveitar a defesa de que não existe uma ferramenta para todos os propósitos e considerar que “não existe o melhor” ou a “forma apropriada”, quando justamente por não existir ferramenta universal é que devemos usar algo por sua especialidade.

O manifesto ágil tem um trecho que diz:

“Estamos descobrindo maneiras melhores de desenvolver software fazendo-o nós mesmos e ajudando outros a fazê-lo.”

Observe que ele diz “melhores” e não “diferente” ou “de outra forma“.

No final diz:

“Ou seja, mesmo havendo valor nos itens à direita, valorizamos mais os itens à esquerda.”

Aqui reconhece que os itens à direita não estão errados, apenas que os da esquerda levam a uma melhor forma de tratar o campo específico que é desenvolver software.

Tentar levar o manifesto ágil para gestão de projetos, construção civil ou limpeza da sua casa o faz ser uma bala de prata e que não vai matar nada porque você não está atigindo o coração, apenas tentando criar um martelo genérico para um uso universal.

Todo o “KnowHow” associado ao manifesto ágil se refere única e exclusivamente ao processo de desenvolver software da melhor forma, atinge o pontual.

Agiletards sabem ser chatos também quando seguem metodologias de caixinhas e querem criar um novo dogma de desenvolvimento de software.

Existe o melhor e a forma mais adequada, procurar é nosso dever!