Em todos os projetos que trabalhei até hoje no mercado local [Ceará] existem profissionais mais ou menos qualificados a partir de uma base mínima de qualidade que um profissional tem que possuir dentro do modelo “Enterprisey” – que estamos acostumados e que responde pela quase totalidade dos projetos de software.
Essa base mínima eu proponho que seja – dentro do modelo exposto – raciocínio lógico. O resto ele pode aprender.
Raciocínio lógico está ligado diretamente a noção de avaliar a situação, encontrar um padrão, investigar soluções existentes e implementar a solução, além claro de bom senso.
Não adianta pregarmos que os profissionais deveriam ser melhor escolhidos assim ou assado porque a realidade é que as empresas não tem como medir satisfatoriamente quem é ou não competente e mais cedo ou mais tarde você se deparará com indivíduos em sua equipe vindos por diversas nuances administrativas, seja aquele superqualificado cheio de títulos ou o primo do diretor da empresa.
Aonde quero chegar com essa história?
Precisamos avaliar os riscos necessários com bastante antecedência para que toda a equipe e consequentemente o projeto não sejam lesados e paguem o preço da incompetência às vezes de um único elemento. Parece óbvio? Acredite, não é!
Temos um projeto em um cliente – uma Alfândega – que precisamos refatorar todo o código criado por um determinado profissional com apenas dois ou três meses pronto. O projeto ainda está no início e já temos que refazer código.
Convenhamos, tudo bem que o código de meia hora atrás já é legado, mas código tão recente não deveria já ser refatorado sem mudança na lógica de negócio ou arquitetural. Algo muito errado aconteceu.
Mudanças não funcionais acontecem, surge um novo paradigma ou framework que reduz o tempo de desenvolvimento e convenientemente é adequado sua mudança, isso é comum durante a manutenção de um software já em produção com um meio século de uso – que em informática dura cerca de 4 ou 5 anos.
O nosso em questão não há motivos. Projeto novo, sem restrição ou adequação à “Arquitetura de Referência”, Frameworks de última milha na plataforma Java como JSF, Spring e Hibernate. Testes unitários – mas não TDD.
Como dito, separei um exemplo em código para demonstrar aonde quero chegar. Tem uma lógica bastante simples, existe um processo de apreensão de mercadorias na alfândega e liberação dessa mercadoria.
Há 3 tabelas que representam isso no modelo E/R: TB_DEVOLUCAO, TB_ITEM_APREENSAO, TB_ITEM_DEVOLUCAO. Segundo a lógica relacional, a TB_ITEM_DEVOLUCAO é uma tabela de junção entre a devolução e os itens apreendidos para indicar que item será devolvido.
Seguindo minha definição, um profissional com raciocínio lógico encontraria fácil a solução do mapeamento entre essas entidades apenas lendo a documentação, ele saberia que o Hibernate tem um mapeamento de OneToMany com Join Table Uni ou Bidirecional.
Mas não, ele criou essa bizarrice:
@Entity
@Table(name="TB_DEVOLUCAO")
public class Devolucao {
@OneToMany(fetch=FetchType.LAZY, cascade=CascadeType.ALL)
@JoinColumn(name="SEQ_ITEM_DEVOLUCAO")
@Cascade(org.hibernate.annotations.CascadeType.DELETE_ORPHAN)
private List itensDevolucao =
new ArrayList();
}
@Entity
@Table(name="TB_ITEM_DEVOLUCAO")
public class ItemDevolucao { //Para que essa entidade?
@Id
@GeneratedValue(strategy = GenerationType.IDENTITY)
@Column(name="SEQ_ITEM_DEVOLUCAO", columnDefinition="NUMERIC")
private Integer codigo;
@OneToOne
@JoinColumn(name="SEQ_ITEM_APREENSAO")
private ItemApreensao itemApreensao;
}
Esse profissional em questão é graduado em computação, tem mestrado em uma federal, certificação como arquiteto Java e diversas outras certificações e pasme, anos de experiência em projetos. Mas não tem o básico, raciocínio lógico. Não investiga e não sabe desenvolver software de qualidade.
O código em questão pode parecer bobagem até mas isso se repete em todo o código criado por esse profissional.
Um profissional responsável em refatorar o código com apenas curso técnico e uma mísera certificação de programador java refatorou assim [como deve ser]:
@Entity
@Table(name="TB_DEVOLUCAO")
public class Devolucao {
@OneToMany(fetch=FetchType.LAZY, cascade=CascadeType.ALL)
@JoinTable(name="TB_ITEM_DEVOLUCAO",
joinColumns = @JoinColumn(name="SEQ_ITEM_DEVOLUCAO"),
inverseJoinColumns =
@JoinColumn(name="SEQ_ITEM_APREENSAO")
)
@Cascade(org.hibernate.annotations.CascadeType.DELETE_ORPHAN)
private List itensDevolvidos =
new ArrayList();
}
Ad Hominem da minha parte? Tomar uma exceção pela regra? nada disso, eles são legião! Isso é meu cotidiano.
O prejuízo que esse profissional acarreta a todos os envolvidos é enorme e até difícil de ser mensurado porque envolve custos e humor da equipe que impacta em outros custos imperceptíveis na conta final que é a “fodisse” dos caras que tiveram que refatorar, ou seja, fizeram o seu e o trabalho alheio.
Ah, mas XP não prega o código coletivo? ir lá e consertar? Mas quebra o principal valor que é “Respeito”. Além do mais o projeto em questão seque o velho Cascata – mas culpa do cliente que exigiu ser assim, exigiu não, obriga.
Pela minha experiência de nada adianta você jogar um Clean Code nas mãos dele e pedir para estudar, ele vai continuar escrevendo nmDesc em uma propriedade ou IRepository em uma Interface. Ele foi treinado assim e sem raciocínio lógico no máximo que voce vão conseguir é retreiná-lo para conseguir comer a banana por outro túnel.
Um projeto sem um líder técnico responsável com aptidão e experiência necessária aliado a método baseado em BDUF sem um processo restritivo [como TDD] com modelagem ultrapassada com papéis de analista de sistemas “UMLizados” deixa esse tipo de profissional cometer esses pecados e prejudicar a todos os envolvidos retrabalho desnecessário.
É fácil resolver isso? É! O problema maior é que não podemos simplesmente aceitar que “o cliente quer assim”, temos um dever ético com nossa profissão de não permitir que o paciente escolha como ele quer ser operado e ceder médicos que não tenham capacidade de operá-lo.